Você sente um vazio ou desespero só de imaginar perder alguém que ama? Já se pegou agindo com ciúmes, insegurança ou até se anulando em uma relação por medo de ser deixado? Esse sofrimento tem nome: ansiedade de separação em adultos — e pode estar enraizado em vivências emocionais profundas, muitas vezes inconscientes.
Neste artigo, vamos entender o que está por trás desse medo, como ele se forma e o que é possível fazer para quebrar esse ciclo de dor afetiva e construir vínculos mais saudáveis.
O que é ansiedade de separação em adultos?
A ansiedade de separação é geralmente associada à infância, mas também pode se manifestar na vida adulta. Ela se caracteriza por um medo intenso e persistente de ser abandonado, rejeitado ou deixado para trás — especialmente em relações afetivas significativas.
No olhar da psicanálise, esse medo pode estar relacionado a fixações infantis, particularmente à fase oral do desenvolvimento psicossexual, em que o bebê depende totalmente da presença e cuidado da figura materna. Quando essa presença é marcada por rupturas, negligência emocional ou rejeição, cria-se uma angústia primitiva de perda — o que Winnicott chamaria de “medo do colapso que já aconteceu”.
“Toda perda atual é, de alguma forma, o retorno de uma perda antiga.”
— Sigmund Freud
Como o medo do abandono se forma?
De acordo com Bowlby (1989), criador da Teoria do Apego, a forma como cuidadores primários respondem às necessidades emocionais da criança influencia diretamente a formação de vínculos na vida adulta. Um apego inseguro ou ambivalente pode gerar adultos que oscilam entre o medo da perda e a tentativa constante de agradar para manter o outro por perto.
Exemplos práticos:
- Ana, 34 anos, diz “sim” para tudo que o parceiro pede, mesmo quando isso a faz mal. Ela tem medo que, se disser “não”, será deixada.
- Tiago, 28 anos, sente pânico quando a namorada não responde mensagens rapidamente. Ele teme que a ausência de resposta seja sinal de rejeição.
Esses comportamentos não são fraquezas. São respostas emocionais de proteção criadas em algum momento da vida — geralmente quando se aprendeu que amar era arriscado.
Quais são os sintomas da ansiedade de separação em adultos?
- Medo constante de ser rejeitado ou esquecido.
- Apego excessivo a parceiros afetivos.
- Necessidade constante de validação.
- Dificuldade de ficar sozinho.
- Crises de ansiedade em despedidas ou afastamentos.
Segundo Nancy McWilliams (2011), essas reações podem estar relacionadas a traços de personalidade dependente e estruturas psíquicas formadas para evitar o colapso de vínculos.
O Impacto emocional de viver com esse medo
O medo do abandono não só corrói a autoestima, mas aprisiona a pessoa em uma dança constante entre o controle e a submissão. Vive-se na expectativa do outro, o que gera angústia, ciúmes, raiva e culpa — um ciclo tóxico que se repete silenciosamente em diversos relacionamentos.
“A angústia do abandono é o eco de uma falta fundamental.”
— Jacques Lacan
Como lidar com a ansiedade de separação e o medo do abandono?
- Entenda que o medo não é frescura — é real e psíquico
O primeiro passo é reconhecer que esse medo tem raízes emocionais profundas. Ele precisa ser acolhido, não negado.
- Faça o caminho de volta à sua história
Muitas vezes, só compreendemos nossos comportamentos atuais quando revisitamos as primeiras experiências afetivas. A psicanálise ajuda nesse processo, possibilitando resgatar e elaborar memórias inconscientes.
- Fortaleça sua individualidade
Relacionar-se com o outro sem perder a si mesmo é um dos pilares do equilíbrio emocional. A terapia ajuda a construir uma base segura interna, que não dependa da aprovação ou da presença constante de alguém externo.
- Dê novo significado às ausências
Ausência nem sempre é abandono. A presença saudável inclui espaço. Aprender isso emocionalmente é libertador.
Um olhar amoroso para suas feridas
Você não precisa viver com medo de ser deixado.
Você não precisa se anular para ser amado.
Você merece vínculos seguros — começando com você mesmo.
A psicoterapia psicanalítica é um caminho potente para curar essas feridas e construir uma nova forma de se relacionar consigo e com os outros. E você pode começar agora.
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Referências Bibliográficas:
- FREUD, Sigmund. Inibição, sintoma e angústia. 1926. Obras completas.
- WINNICOTT, Donald. O medo do colapso e outros ensaios clínicos. Imago, 1990.
- BOWLBY, John. Apego: A natureza do vínculo. Martins Fontes, 1989.
- MCWILLIAMS, Nancy. Psicodiagnóstico Psicodinâmico. Artmed, 2011.
- LACAN, Jacques. O Seminário, Livro 4: A Relação de Objeto. Zahar, 1995.
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